- por Ya’aqov ben Ya’aqov sob orientação de Yisra'el
Gênesis 1:1
בראשית ברא אלהים את השמים ואת הארץ
No princípio criou Elohim, Tu, os Céus e Tu, a Terra.
A frase que dá início ao texto bíblico, além de guardar uma série de ensinamentos tanto de natureza cosmogônica, quanto estabelecendo um padrão existencial, já nos apresenta informações fundamentais na sua primeira letra, ב.
O bet (ב)[1], que inicia o texto, tem função de proposição “em”, que pode denotar a ideia de localidade, isto é, onde se encontra alguém ou alguma coisa; a ideia de temporalidade; bem como a ideia de modo/meio pelo o qual algo é feito. A primeira ideia de localidade é um forte indicativo, ainda mais se levarmos em consideração o significado da própria letra, que faz referência a uma “moradia”, um “lar”. Atualmente, o bet designa casa, porém, em sua função primitiva, era a representação de uma “tenda”, a morada dos hebreus ainda em sua condição de nômades. Porém, os outros dois significados não podem ser afastados, posto que a palavra, a qual o bet atua como prefixo, indica temporalidade, e o próprio versículo estabelece o modo/meio pelo o qual a manifestação ocorreu. Assim, podemos entender que o modo/meio do processo cosmogônico se deu pelo estabelecimento de uma dualidade espaço-temporal.
O próprio conceito de uma dualidade está presente no valor numérico do bet, que corresponde ao número dois. Esta dualidade será apresentada por todo o texto do Gênesis, como será visto, porém, cabe-nos destacar que este fenômeno corresponde ao que chamamos de merisma, isto é, a separação em partes distintas, mas complementares, correspondendo a totalidade de um objeto, a exemplo de se analisar uma situação levando em consideração os seus prós e contras. No exemplo, existe uma unidade, a situação, foi “separada” em uma dualidade, composta pelo aspecto “pró” e pelo aspecto “contra”. O “pró” é oposto do “contra”, mas ambos formam uma totalidade e possuem, em cada um deles, uma gradação, isto é, a dualidade guarda, em si, uma multiplicidade. Neste sentido, verificamos que a “unidade” modo/meio se deu pela duplicidade espaço-tempo, bem como deixa implícita a ocorrência de vários locais e inúmeros tempos, que serão melhor abordados em momento oportuno.
Outro ponto que merece destaque ainda na análise do bet, encontra-se no fato de que o texto bíblico tem início com o número dois e não com o um. Em outras palavras, podemos dizer que a manifestação ocorre a partir do dois, mas existe o número um oculto por trás da própria criação. Como dissemos anteriormente, não existem números no hebraico, apenas consoantes, e a letra que possui o valor número correspondente ao um é o א. Neste sentido, podemos dizer que o bet manifesto oculta um aleph imanifesto, mas que tem a capacidade de sustentar e dar causa ao bet. Com isso em mente, devemos voltar a nossa atenção ao aleph, a fim de compreender tanto a relação da teologia do texto, quanto para compreender uma questão gramatical que abordaremos mais à frente.
A letra aleph, além de possuir o valor número igual a um, nos apresenta uma série de significados, sendo o mais importante, para o nosso estudo, o de representar Deus. Este entendimento decorre da leitura do nome da letra por extenso: אלף. Ao se ler o nome da letra aleph por extenso podemos pronunciá-la como aluf, que significa “amo”. Também podemos pronunciá-la como ulfana, que significa “escola de estudo” ou “professor”. Além destes, ao lermos do final para o início, pronunciamos péle, isto é, “maravilhoso”. Assim, verificamos que Deus é o nosso “amo” e “professor” e, quando visto por nós, revela-se “maravilhoso”.
Contudo, outro significado está contido no aleph, decorrente de sua criação, no que podemos chamar de paleo-hebraico. Primordialmente, o aleph era a letra utilizada para designar o “boi”, no sentido de “gado”, numa referência à atividade pastoril, e, portanto, a ideia da força deste animal está inserida no seu significado. Apesar de o significado de “boi” ou “gado” ser pouco utilizado, atualmente, ao se designar a letra aleph, veremos que esta informação abrirá algumas chaves interpretativas no decorrer do nosso estudo.
Ainda no tocante ao significado da letra aleph e significados “ocultos”, o desenho adotado para representar a letra, א, é uma composição de dois yods (י) espelhados e um vav (ו) unindo-os. Neste entendimento, o yod superior representa o próprio Deus e o tamanho diminuto da letra, que é a menor do alfabeto hebraico, simboliza o quão pequeno é o nosso entendimento a Seu respeito. Já o yod inferior representa o yud, o judeu, que reconhece a sua pequenez em relação a Deus e, por isso, humildemente, coloca-se no seu lugar de aprender os ensinamentos divinos. Unindo os dois, encontra a letra vav, que tem função de conectivo e, simbolicamente, representa a fé do judeu nos ensinamentos e designios divinos. Com base neste entendimento, verifica-se que, além do valor numérico de um, o aleph oculta o valor de vinte e seis, posto que cada yod tem valor igual à dez e o vav, seis. Este valor também é encontrado no tetragrammaton, יהוה[2], que é utilizado para designar Deus em outras passagens do texto bíblico. O próprio entendimento a respeito do desenho do aleph, transmite que existe um par de opostos, representados pelos dois yods, que estão intimamente unidos, tal qual o indicativo do merisma expresso no entendimento da letra bet, que dá início ao texto bíblico.
Neste sentido, ao verificarmos que o desenho do aleph nos revela uma dualidade imanifestada, yod superior, e manifestada, yod inferior, podemos inferir que esta mesma relação se faz presente na dinâmica aleph-bet contida no início do texto bíblico. Tal relação pode ser ratificada com o significado de lar que o bet transmite, sugerindo que o processo de cosmogonia é o desejo/vontade[3] de Deus de estabelecer uma morada. Ademais, a própria letra bet, ao ser escrita por extenso, significa “lar”, בית (bait), sendo o mesmo significado que “envolve” o radical da palavra bereshit (בראשית). Nesta palavra, encontramos o prefixo bet e o sufixo yod e tav, envolvendo o radical ראש (rosh ou resh), indicando que todos as informações contidas no bereshit acontecem como que dentro de um lar.
Dando continuidade ao estudo da primeira palavra, verificamos que o seu radical é rosh ou resh (ראש). Tal palavra significa “cabeça/mente”, “princípio”, além de poder ser utilizada para designar um “chefe/líder”. Com tais significados em mente, verificamos que o radical transmite alguns conceitos para a primeira palavra da bíblia.
O primeiro, que podemos destacar é o significado de “princípio”, indicando uma temporalidade. Por tal fato, costuma-se traduzir o bereshit como “No princípio” ou “em princípio”. Tendo em vista que este “princípio” também transmite a ideia de “cabeça”, ele está associado ao nascimento, posto que, em regra, os bebês nascem de cabeça, fazendo com que bereshit, ao designar o livro que inicia, receba a tradução de “gênesis”[4].
Tanto o conceito de temporalidade, quanto o de nascimento contidos no bereshit, nos possibilitam inferir, pelo menos, duas coisas: a primeira, é que tanto o tempo, quanto o espaço, tal qual conhecemos, têm início no bereshit, isto é, o aleph oculto se encontra para além da dualidade tempo-espacial. A segunda coisa se vincula a possibilidade de que neste princípio, a dualidade espaço-temporal exista de maneira absoluta, fazendo com que a, aparente, multiplicidade do tempo e do espaço seja a expressão desta “ideia” (רעיון) absoluta. Utilizamos aqui a palavra rayon (רעיון), que transmite o conceito de “ideia”, tanto pelo seu significado “isolado”, quanto pelo fato de que o rosh (ראש) ao estabelecer a figura de uma “mente”, “cabeça”, determina que exista, em seu interior, uma ideia, um conceito, uma intenção, um plano, uma ambição[5], significados contidos na expressão רעיון. Ademais, a raíz da citada expressão é רעה, que, apesar de significar “mau” e “mal”, também pode ser utilizado no sentido de “bom”[6] e “bem” (a ambivalência do “mau/mal” e do “bom/bem” será tratada mais adiante), além de dar origem às palavras “pasto” (מרעה) e “rebanho” (מרעית).
Desta forma, podemos dizer que o bereshit é a forma do lar da dualidade espaço-temporal, a qual comporta, em si, uma ideia, uma ambição, a de gerar um pasto para o aleph (boi) oculto. Em outras palavras, o bereshit é a mente de Deus, que pensa a Sua vontade, sendo esta, aquilo o que O nutre e O sustenta, posto que é o pasto que nutre o boi para que ele possa continuar a ser. Neste sentido, podemos inferir que o aleph oculto, Deus, ininterruptamente pensa a Sua ambição/vontade e, nela, existe o gérmen do bem e o do mal, isto é, do que é verdadeiro e do que é falso, do que faz bem e nutre e do que faz mal e não nutre.
Retornando ao bet (ב), verificamos que a “casa”, o “local”, é algo que delimita, restringe, dá forma. Assim, por oposição, o aleph oculto é algo que não possui limite, é irrestrito e sem forma. E é pela ação do aleph oculto que o bet é preenchido e, verdadeiramente, torna-se um “lar”, ou seja, o bet, em si, é vazio e necessita do aleph para ser um “lar”. A dinâmica aleph-bet é a dinâmica de alguém que “procura” uma morada, um lugar para habitar e transformá-lo em lar. O próprio desenho do bet suscita esta ideia, pois, para alguns, ele é formado por três pilares, deixando um espaço aberto para que algo o penetre, tal qual a forma da boca e da garganta, que deve ser preenchida pelo ar a fim de que as consoantes (forma) ganhem vida pelo ar das vogais (essência).
No início do texto, indicamos que o bet também pode assumir a função de preposição de meio/modo e é justamente esta função que nos conduz a segunda palavra do texto bíblico: ברא.
Normalmente traduzida como “criar” [bara (בֹּרֵא)], a expressão possui uma série de significados, de acordo com a pronúncia, e que complementam o nosso estudo, bem como abrem portas para melhor compreendermos outras passagens contidas no próprio texto bíblico. A exemplo, podemos destacar beer (בְּאֵר), que significa “poço”, “fonte” e “cova”; bor (בֹּאר), que significa “poço”, “cisterna”; baar (בָּאַר), que significa o verbo “esclarecer”, “declarar”; e beré (בֵּרֵא), que significa “entalhar”, “cavar”. Além destes significados, a raiz primitiva da palavra também transmite a ideia de “fazer (gordura)”, a “engorda” do gado, e a de “escolher”, “selecionar”.
Porém, antes de nos atermos aos significados que ברא transmite, é importante percebermos que a própria palavra se encontra grafada no início do bereshit, nos sugerindo que ela, apesar de se encontrar geograficamente separada da palavra בראשית, “acontece” no seu interior. Isto é, tudo o que ברא significa, está contido no “lar”, na “cabeça/mente”, na dualidade espaço-temporal do בראשית. Em outras palavras, todo o processo criativo está contido na própria mente divina e é fruto da “fecundação” da “morada da forma” (bet) pela “força da essência” (aleph oculto).
Tendo em vista que ברא se encontra no interior do בראשית, podemos dizer que ele se encontra em toda a sua potencialidade, isto é, ele possui todos os seus significados. Assim, ele é a capacidade de criar, de entalhar, concedendo formas à essência. Ele é o poço no qual se guarda a água que dá vida e a cova, na qual se deposita o que morre. É o que gera a capacidade de se esclarecer as coisas, separando o que é verdadeiro (bem, bom) do que é falso (mal, mau), e, por isso, declarando o que é o que, e, por isso, escolhendo o que é bom. É aquilo que faz o gado engordar, o pasto. É o poço (bet), que, quando se olha para o seu fundo, enxerga-se a escuridão, mas, quando se olha para o seu topo, vê-se a luz (אור). São todas as possibilidades descritas no restante da Torá, pois, todas elas são expressões do בראשית ברא, que, por sua vez, expressam o בראשית, que, por sua vez, expressa a dinâmica entre o aleph oculto e o bet visível, o eterno devir, que estabelece que aquilo o que foi será igual ao que será, pois “fui qual serei” [ehie-asher-ehie (אהיה אשר אהיה)][7] (Êxodo 3:14).
Neste sentido, podemos dizer que a Torá estabelece infindáveis maneiras de se apresentar uma única coisa, a Lei, a dinâmica aleph-bet. Em alguns pontos, ela se encontra mais visível, como o nas duas primeiras palavras do Gênesis, em outros, ela está mais difusa, fazendo uso de analogias, como o encontrar de um poço, ou mesmo uma dinâmica conjugal, como a de Abrão[8], e, em alguns pontos, ela é repetida inúmeras vezes dentro da busca pela “terra prometida”.
Dando continuidade ao texto bíblico, nos deparamos com o sujeito da frase, אלהים. Contudo, diferentemente do que se apresenta em uma estrutura gramatical padrão, na frase, o sujeito se encontra depois do verbo, nos sugerindo, gramaticalmente, que ele seja um agente da passiva, isto é, um sujeito que sofre a ação do verbo e não aquele que o pratica. Ademais, o sujeito da frase está oculto, o aleph. Desta forma, vemos que Elohim (אלהים) não é Deus, como alguns tradutores gostam de apontar, mas uma criação Sua, um intermediário sob o qual recai a ação do ברא e, por intermédio do qual, os efeitos do ברא são expressos na manifestação. Podemos dizer, inclusive, que Elohim é o primeiro entalhe, o poço criado pelo aleph oculto, que, embora não seja o próprio verbo, está intimamente e de maneira indissolúvel associado a ele.
A própria concepção de que Elohim é um nome de Deus pode ser explicada de três formas diferentes, que não se excluem. A primeira, está na falta de percepção do sujeito oculto da oração, o aleph. A segunda, está no fato de que o seu nome contém o elemento אל, que é utilizado para designar a divindade; enquanto a terceira forma está no fato de que Deus, o aleph oculto, atua por intermédio de Elohim para interagir com o mundo manifesto, assim, apesar de Elohim não ser verdadeiramente Deus, ele atua como se O fosse, posto que O representa no mundo manifesto. Tal fato pode ser entendido como um emissário que, apesar de não ser o rei em si, ao atuar, atua em seu nome e, por isso, o representa; ou mesmo ao pensar em um sistema presidencialista moderno, o presidente, mesmo não sendo o povo e o país, personifica, na sua função, estes elementos.
Outro ponto que merece destaque quanto a figura do Elohim, encontra-se na composição do seu nome. Costuma-se dizer, amplamente, que ele possui uma dualidade, um aspecto singular masculino, o אל, e um outro aspecto múltiplo feminino, o הים, posto que as letras finais de seu nome indicam um plural feminino. Contudo, embora esta interpretação possa ser utilizada, inclusive, não a descartamos, entendemos que o seu nome tem outra composição inicial. Isto é, a formação do seu nome decorre da aglutinação de duas palavras isoladas e que o resultado final também transmite este entendimento comumente atribuído ao Elohim.
Desta forma, a primeira palavra utilizada para formar o nome Elohim foi o אל. Como dissemos, ela é utilizada para se referir à divindade, porém, de maneira ampla, o que corrobora com o nosso entendimento de que Elohim não é Deus em si, mas uma representação sua. A sua utilização para se referir à divindade, encontra-se no significado da união das duas letras que compõem a expressão. Enquanto o aleph, primordialmente, indica a força do boi, o lamed representa o bastão utilizado pelo pastor para direcionar o boi para onde deseja. Ao se escrever a letra ל por extenso, encontramos למד, que significa “aprender”, “ensinar”, ademais, o seu desenho é formado pela aglutinação de outras duas letras, o kaf e o vav, fazendo com que, oculto no seu valor numérico igual a trinta, seja encontrado o vinte e seis, posto que o כ (kaf) tem valor correspondente a vinte e o ו (vav), a seis. Assim, as duas letras que formam o אל estão vinculadas ao conceito de Deus, mas em aspectos distintos, pois, enquanto o aleph é a força latente do boi, o lamed é a força direcionada após o escrutínio.
Outro aspecto vinculado a gematria do אל, está na sua associação com a letra ד. Esta ligação ocorre pelo fato de que o somatório dos valores numéricos do aleph (1) com o lamed (30), alcançarem o número trinta e um, que, reduzido, revela-se como o quatro [3 (gimel) +1 (aleph)], valor da letra dalet. Ao escrevermos o nome da letra por extenso, obtemos דלת, que significa “porta”. Unindo tal significado na imagem construída pelo bet, no início do versículo bíblico, podemos dizer que o אל é a porta da tenda, do lar, o qual atua como intermediário entre o aleph oculto, que se encontra “fora” da moradia, e o interior da residência, da manifestação. Esta representação da “porta” da tenda, inclusive, pode ser encontrada mais a frente, no texto bíblico, no momento no qual Abraão encontra יהוה:
Gênesis 18:1
E יהוה apareceu-lhe (a Abraão) junto a Elone Manré, e ele estava sentado à porta da tenda ao calor do dia.[9]
(וירא אליו יהוה באלני ממרא והוא ישב פתח־האהל כחם היום)
Quanto à função gramatical do אל, ele também pode ser utilizado como a proposição “no”, indicando uma localidade, como na expressão “no mar”, אל הים. E este é um dos elementos que fazemos uso para compreender o verdadeiro significado do Elohim, posto que a segunda palavra que o forma é justamente הים, “o mar”.
Inicialmente, temos de salientar que, diferentemente do que acontece atualmente, que a expressão “mar” é utilizada para designar uma extensa quantidade de água salgada, há época, era utilizada apenas para designar uma grande quantidade de água, tal qual ocorre com designação de topônimos que perduram até hoje, como o “mar da Galileia”, que, apesar de ser chamado de mar, possui água doce e, portanto, trata-se, tecnicamente, de um grande lago.
Feito o esclarecimento, ao retornarmos a utilização da expressão הים como integrante da composição de Elohim, revelamos a origem das águas que, posteriormente, aparecem no próprio texto bíblico e que costumam gerar malabarismos explicativos para designar o seu aparecimento. Entendendo que as águas já existem, tanto na figura do poço (ברא), quanto na de Elohim, além de resolvermos a questão das águas contidas no restante do primeiro capítulo do gênesis, compreendemos que sua utilização, em diversas passagens, bíblicas, fazendo alusão, implicitamente, à presença de Deus como aquele que dá à vida e nutre a existência:
Isaías 58:11
E יהוה te guiará continuamente, alegrará tua alma, fortificará teu corpo; e serás como um jardim florido, como um manancial cujas águas são inexauríveis.
Isaías 12:2-3
Sei que אל é minha salvação; confiarei e nada temerei; pois יהוה é minha força e minha canção, e tornou-se minha salvação. Por isto com alegria buscaremos a água da fonte da salvação.
Deuteronômio 17:1-7
E toda a congregação dos filhos de Israel viajou do deserto de Sin para suas jornadas conforme a ordem de יהוה, e acamparam em Refidim, e não havia água para beber. E o povo brigou com Moshé e disse: Dai-nos água para beber! - E Moshé disse-lhes: Por que contendeis comigo? Por que experimentais יהוה? E o povo sentiu-se sedento ali pela falta de água, e brigou com Moshé e disse: Por que nos fizestes subir do Egito para matar a mim, a meus filhos e a meu gado de sede? E Moshé clamou a יהוה, dizendo: Que farei a este povo? Um pouco mais e me apedrejarão! E יהוה disse a Moshé: Passa diante do povo e toma contigo alguns dos anciãos de Israel, e a tua vara, com a qual golpeaste o rio, toma em tuas mãos e vai. Eis que Eu estou diante de ti, ali sobre o rocha, em Horeb, e baterás na rocha, e sairá dela água e o povo beberá. E assim fez Moshé, aos olhos dos anciãos de Israel. E chamou o lugar de Massá e Merivá, pela disputa dos filhos de Israel, e por experimentarem יהוה, dizendo: Está יהוה entre nós ou não?
Zacarias 13:1
Naquele dia haverá uma fonte aberta para a Casa de David e para os moradores de Jerusalém, para remover o pecado e a impureza.
Neste sentido, podemos entender o הים de Elohim como “o mar”, isto é, a fonte de todas as águas, indicando àquilo o que se encontra no poço (ברא). Ademais, ao verificarmos o valor numérico existem em הים, encontramos o número dois, referente ao bet[10], vinculando “o mar” com a tenda, e ratificando a ideia de que o אל corresponde à sua porta. Assim, tanto o ברא, quanto Elohim se confundem com o bet inicial, a tenda desejada pelo aleph oculto. Esta conexão é reforçada com o valor numérico do próprio Elohim, que é seis, o vav[11], o gancho (וו) que a tudo une.
Então, podemos entender Elohim como “no mar”, isto é, as águas que existem no poço; como deus nas águas; como a potência das águas[12] ou potência dos mares. E, por Elohim se encontrar intimamente vinculado ao bet, tal qual fizemos com o ברא, devemos entender que ele possui todos estes significados, inclusive que lhe é tradicionalmente atribuído. Quanto a isto, verificamos que ele representa a singularidade masculina, do aleph, fecundando a pluralidade feminina do bet, posto “existirem” múltiplos bet inseridos no bet inicial do versículo. Outro ponto que também cabe destacarmos, está no fato de que o Elohim, como vimos, também guarda, em si, o que, posteriormente, será apresentado como a dualidade macho e fêmea, e que, nele, está representando a dualidade aleph oculto-bet.
Retornando a questão gramatical do Elohim, ao estabelecermos que ele é o agente da passiva, constatamos que a ação ברא recai sobre ele, e, por seu intermédio, mais uma dualidade é formada: את השמים ואת הארץ.
Tal dualidade, apesar de estar inserida no bet, é vista como algo “a parte”, em função do uso do pronome pessoal reto de segunda pessoa את. No chamado discurso verbal, a primeira pessoa, Eu/Nós, é aquela que fala, enquanto a segunda pessoa, Tu/Vós, é a quem se fala, enquanto a terceira pessoa, Ele/Ela/Eles/Elas, é o objeto da conversa. Deste modo, a presença do את nos revela uma aparente separação dentro da manifestação. Utilizamos a expressão aparente, pois apesar da diferenciação apresenta no discurso verbal, como se existisse uma dualidade, estando de um lado, quem fala, e do outro, com quem se fala, esses dois aspectos (את השמים ואת הארץ) se encontram dentro de Elohim e, portanto, no bet.
Entendemos melhor esta questão quando observamos a formação da palavra השמים, que costuma ser traduzida como “os céus”. O prefixo he (ה) tem função de artigo, deixando a palavra שמים para a nossa análise. Embora ela, de fato, signifique “céus”, ela também é formada pela junção de duas expressões: שם e מים [13]. A primeira expressão significa “lá há” ou “lá existe”, enquanto a segunda, significa “água”, fazendo com que os céus tenham o significado de “lá há água”[14]. Ao passo que a expressão ארץ, significa “terra”, mas no sentido de localidade, território no qual se vive e ao qual se está vinculado.
Desta maneira, podemos entender a nova dualidade tanto como a terra seca e o local no qual existe água, o poço, quanto como os dois elementos que existem no poço, a água e a terra. Da primeira forma, encontramos uma inversão, que faz alusão ao aleph oculto, posto que as águas estão escondidas no subsolo, enquanto a terra é aquilo o que está visível, o deserto, mas que pode se transformar num oásis, o bet, caso seja alimentado pelas águas. Já na segunda forma, verificamos que, em Elohim existem dois aspectos, um que dá a vida e o outro que não.
Um outro ponto curioso na construção da representação do Elohim, encontra-se no fato de que, como vimos, ele é formado, primeiro, por um aspecto singular, אל, e, depois, por um aspecto plural, הים, mas, ao se “subdividir”, primeiro, ele é representado por um aspecto plural, את השמים, e, depois, por um singular, את הארץ. Tal característica indica uma situação “espelhada”, na qual a potência, do אל, encontra-se vinculada a את הארץ, enquanto a vida, do הים, esteja vinculada a את השמים. Neste aspecto, àquilo o que está localizado em את הארץ, encontra-se em estado latente, necessitando do contato vital com o que está em את השמים para, novamente, unir-se na unidade Elohim. Tal dualidade, representa a dualidade do bet, que, para se tornar um “lar” e manifestar o aspecto criativo-criador do ברא, necessita da ação decorrente do aleph oculto. E, posteriormente, far-se-á presente na criação do אדם (Gênesis 1:26), na qual podemos verificar que Adam, sem a presença divina do aleph, apenas é “sangue” (דם), isto é, o sangue representa a morada vazia que necessita da presença divina para se transformar num lar.
Esses aspectos também apresentam a dinâmica de que existe uma dualidade na qual, de um lado, encontra-se a “pureza”, representada pelo aleph oculto, por את השמים, pelas águas, pelo aleph contido no Adam e na verdade/vida (אמת). E, pelo o outro lado, está aquilo o que é impuro, como a “casa vazia”, a את הארץ, a terra[15], o sangue (דם) e a morte (מת)[16]. As coisas ditas impuras necessitam da ação do que é puro para que possam deixar a sua condição, como veremos mais à frente na manifestação da luz (Gênesis 1:2-4)
Outro ponto que podemos destacar nesta dualidade, está no fato de que a potência necessita de um espaço para se realizar. Em outras palavras, aquilo o que é puro e se encontra latente no interior de cada coisa, necessita de ser revelado, ocupando o seu lugar no espaço, a fim de que transforme a casa num lar. Esta condição está inserida no conceito do תיקון עולם (tikun olam), a “reparação do mundo”[17], que é uma prática perpétua, posto que, tal qual a criação se inicia com o estabelecimento de uma morada, o bet, ela, em seu processo criativo-criador, estabelece uma nova morada, את הארץ, que necessita da ação pratica por את השמים, tal qual, inicialmente, houve a ação do aleph oculto, para se transformar num lar”, criando um novo ciclo criativo-criador (ברא), fazendo com que a verdade perdure em um dinâmico estado de vir a ser.
Este ciclo vai apresentar, constantemente, os seus elementos por todo o texto bíblico, apresentando: a ideia de um local/algo/alguém que necessita de ser purificado/redimido pelo contato com o sagrado; a presença do ברא como uma fonte, um micvê, um poço, uma declaração, uma cova, uma escolha, uma seleção, o aumento do rebanho, o ato de entalhar/esculpir/construir algo, a fermentação do pão, a feitura do vinho ou de qualquer outra coisa; uma localidade que necessita de ser encontrada e conquistada; um homem que necessita de encontrar a mulher ideal para com ela se unir; um processo de separação de um elemento que parecia ser único; o realização de um plantio, como simbolizado na celebração do סוכות (sucót), onde a sucá é construída representando o solo coberto por gramas, permitindo a água, que vem dos céus, penetre na terra e nutra aqueles que estão como sementes, enterrados na terra, mas vendo os céus, preparando-se para o desabrochar; a criança, no ventre da mãe, sentindo fome da luz que lhe faz nascer; o rebanho ou grupo ou indivíduo que percorre o deserto desejando a água da vida; a vinda do המשיח; o descendente que deve cumrir as obrigações estabelecidas pela linhagem de seus antepassados[18]; dentre outros.
Observando, agora, o significado geral dos elementos que compõem a primeira frase bíblica, podemos estabelecer, inicialmente, que o aleph oculto, Deus, ao ambicionar uma morada (bet) capaz de perpetuar-lhe a vida, esculpe (ברא) uma entidade que é toda potência (Elohim). Tal entidade, pela ação do ברא, é dividida em dois aspectos, aquilo o que é verdade (את השמים) e aquilo o que é falso (ואת הארץ). Aqui, devemos entender a verdade como aquilo o que permanece no tempo, enquanto falso é justamente o seu oposto, aquilo o que não permanece. O elemento que caracteriza a verdade é a água, posto que é, por intermédio dela, que a vida continua a existir.
Em outro aspecto complementar, podemos estabelecer que o aleph oculto, ao ambicionar (buscar) entender o que é, cria uma entidade, uma consciência, que abarca tanto o que é verdadeiro, quanto o que é falso. Assim, por intermédio da diferenciação entre estes dois aspectos de si, o aleph oculto pode determinar, com exatidão, o que, verdadeiramente, ele é, compreendendo e, constantemente, recordando, que a verdade é a essência, enquanto o falso é a forma (tanto o ב, quando o ארץ), que deve ser preenchida pela essência para revelar a própria verdade.
Também podemos dizer que a verdade é eterna, pois “caminha” de lugar (ב) em lugar (את הארץ), purificando-os e fazendo com o que é falso deixe de existir. Neste processo, estabelece o ente (Elohim) pelo qual a força criativa-criadora (ברא) atua, fazendo com que este ente represente o aleph oculto e, por isso, seja, naquela instância, a própria divindade, posto que ele será o responsável por separar o puro do impuro e, posteriormente, purificar o este com a presença daquele, caminhando de שבת (Shabat[19]) a שבת (Shabat); de שבת השבת (Shabat HaShabatot) em שבת השבת (Shabat HaShabatot), com os nomes que escritos no ספר החיים (Livro da Vida) depois que ele foi selado; realizando o תיקון עולם (tikun olam); tornando-se um צדיק (tsadic) e possa ser considerado (e praticar) קדוש (ser kadosh e kadesh, e realizando o kidush e o kadish); sempre transmitido a palavra viva para onde quer que ela necessite de estar (Salmo 119:11-12 e 86-88; Provérbios 30:5-9).
A cada ciclo, o ente será reconhecido de uma forma, mas sempre representando a mesma coisa, pois “‘Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. E escondeu Moshé sua face, porque teve medo de olhar para יהוה” (Êxodo 3:6-7), bem como os atributos que faz uso são transmitidos para o novo ente, posto que ele necessitará dos mesmos elementos para cumprir a sua função no próximo ciclo.
Jó 1:6
E chegou o dia, e os filhos de Elohim vieram se apresentar a יהוה, e com eles veio também Satan (שטן).
Antes de darmos continuidade ao estudo do primeiro versículo do Gênesis, cabe abrirmos um parênteses para abordarmos a figura de שטן. Traduzida como Satã ou Satan ou mesmo Satanás, שטן acabou sendo associada a algo ruim, como uma espécie de adversário de Deus, porém, o seu significado essencial está longe de ser este. שטן tem como raiz שט, que significa “flutuar (na água)”, “estar a deriva (na água)”. Pelo significado da sua raiz, podemos inferir que שטן está em Elohim como um de seus atributos, embora não o seja. Ao observarmos a face externa de שטן, encontramos o dente [ש] da mentira [נ], mas eles ocultam a verdade [ט[20]]. Com base nestes significados, podemos dizer que שטן é o dente que estraçalha a mentira, revelando a verdade, ou também podemos dizer que é o animal[21] que destrói a mentira, deixando apenas a verdade.
Jó 1:1, 6-12
1. Na terra de Uts viveu um homem chamado Jó, que era íntegro e correto, temente a Elohim e distanciado de todo o mal. (...) 6. E chegou o dia, e os filhos de Elohim vieram se apresentar a יהוה, e com eles veio também Satan. 7. יהוה dirigiu-lhe a palavra, dizendo: “De onde vens?” – e a resposta foi: “De ir e vir e de caminhar de um lado para o outro por toda a terra”. 8. E יהוה perguntou: “Viste meu servo, Jó, inigualável em toda a terra por ser íntegro, justo, temente a Mim e distanciado de todo o mal?” 9. ao que Satan respondeu a יהוה: “Temerá Jó a Elohim, sem motivo? 10. Não o envolveste com uma cerca protetora, sua casa e tudo que lhe pertence? Abençoaste o trabalho de suas mãos e (por isto) cresceram seus bens sobre a terra. 11. Mas se estenderes Tua mão contra tudo que ele possui, verás como Te amaldiçoará frete a frente!” 12. E יהוה respondeu a Satan: “Concedo-te poder para destruir tudo que ele tem; somente a ele, pessoalmente, não deves tocar!” e Satan retirou-se da presença de יהוה.
Conforme se verifica no Livro de Jó, שטן tem acesso à Elohim como os seus filhos; tem a capacidade de ir e vir, em um movimento de “subida e descida”, bem como de andar horizontalmente pela terra. Com base nestas informações e na figura do poço, podemos estabelecer que שטן cumpre a função do balde que sobe e desce e é utilizado para regar o solo desértico[22] ao redor, fazendo com que aquilo que tem a potencialidade para viver, aflore e o que não tem, continue morto. Outro ponto que a passagem nos revela, e que cabe destacar neste momento, está no fato de que שטן só tem a capacidade de destruir aquilo o que se tem, não o que se é, indicando que há uma separação entre o que se tem, que é perecível, e o que se é, que é verdadeiro, posto que os dentes que mordem a mentira não o atingem. Significado parecido, encontramos na figura dos את־הכרבים, que, com a espada flamejante, corta aquilo o que não tem vida, a carne, impedindo que ela entre no Jardim do Éden (Gênesis 3:24). A mesma figura é contida no topo da chamada Arca da Aliança, separando a “morada” da “essência” (Êxodo 25:16-22).
Este atributo da separação está presente no primeiro versículo do Gênesis, na separação entre Céus e Terra; na presença do את, que indica a existência de um outro; na separação entre o aleph oculto e o bet. E é justamente esta capacidade de separar que permite o escolher, o selecionar do ברא, pois, só se pode escolher diante de opções, da mesma maneira que só se pode selecionar diante da multiplicidade.
Outro aspecto que podemos inferir da análise dos elementos contidos do primeiro versículo bíblico é que existe uma realidade “negativa”, o aleph oculto, que se expressa numa realidade “positiva”, o bet, estabelecendo uma unidade, Elohim, que, por sua vez, manifesta-se de maneira dual, את השמים ואת הארץ. A ocorrência desta dualidade, gera uma base trina, composta por את השמים ואת הארץ e a unidade representada por Elohim, da mesma maneira em que estabelece uma “reunificação”, posto que a junção dos elementos את השמים ואת הארץ vão estabelecer um novo ente/ser, tal qual Elohim (Êxodo 20:11), nascendo, assim, a multiplicidade daquilo o que se repete tal qual o modelo, a Lei (Êxodo 25:8-9), com diversos graus e níveis de locais sendo estabelecidos e aguardando para serem transformados em lar (Êxodo 20:7-10 e Êxodo 20:12) pela porção da essência que lhe cabe (Êxodo 20:13), mas sempre mantendo a unidade, pois não há nada acima dos Céus e abaixo da terra, pois tudo nEle está contido (Êxodo 20:2-6).
Salmo 139
Ó יהוה, Tu perscruta meu íntimo e me conheces totalmente. Sabes quando me sento ou levanto e atencipas meu pensamento onde quer que eu esteja. Estás comigo quando repouso ou caminho, e Te são conhecidos todos os meus passos. Antes que eu venha a pronunciar uma palavra, ela já é conhecida por יהוה. De todos os lados e em todos os tempos me amparas e sobre mim estendes Tua mão protetora, embora eu não possa compreender como nem por quê. Para onde eu poderia ir se me quisesse afastar de Teu espírito? Como poderia fugir de Tua presença? Se aos céus eu ascendesse, lá Te encontraria, e se às profundezas me lançasse, também lá estarias. Se com as asas da aurora eu me puser a voar, e se aos confins dos mares eu me dirigir, Tua Mão me continuará a conduzir e Tua destra a me sustentar. Se eu disser: ‘Certamente a escuridão me há de ocultar’, eis que à minha volta se iluminará à noite. De Ti nada encobrem as trevas e para Ti brilha a noite como dia, pois luz e trevas para Ti são iguais. Minha mente [rim (כליתי)[23]] foi por Ti pensada (קניח), e no ventre (בטן)[24] de minha mãe me guardaste (תסכני)[25]. Louvar-te-ei por me teres tão maravilhosamente plasmado (נפליתי)[26], pois admiráveis são todas as Tuas obras como bem o sabe minha alma. De Ti não esteve oculta minha essência quando em segredo fui gerado, nos recônditos da terra fui moldado. Teus olhos fitaram meu ser ainda disforme, pois em Teu livro estão registradas todas as criaturas que, a seu tempo, serão criadas. Para יהוה, entretanto, todas são como se fossem somente uma. Quão valiosos são para mim Teus pensamentos e quão vastos! Se pretendesse contá-los, perceberia serem mais numerosos que os grãos de areia, pois, mesmo ao terminar, continuaria a estar Contigo, ó יהוה! Se destruísses os malévolos, ir-se-iam de mim os sanguinários, que prenunciam Teu Nome para intrigas e O usam em vão. Repudio os que Te odeiam e combaterei os que contra Ti se levantarem. Eu os abomino e verdadeiramente os considero meus inimigos. Analisa-me, ó יהוה! perscruta meu coração, testa-me e esquadrinha meus pensamentos. E se vires em mim um mau caminho, guia-me ao caminho certo.
Com todos os elementos apresentados e retornando a questão do ברא, que, por se tratar de um verbo transitivo, demanda a presença de um objeto, podemos inferir que o este é o próprio Elohim, enquanto Vós, os Céus e Tu, a Terra são características daquilo o que foi criado. Posto que o próprio bet, uma vez manifesto tendo natureza dupla, tempo e espaço, além de ser o meio, só pode dar origem a algo com os mesmos elementos que possui. Com isso em mente, podemos estabelecer que os Céus correspondem à porção temporal do Elohim, enquanto a Terra, à espacial, enquanto o próprio Elohim é o meio no qual a manifestação ocorre.
Desta maneira, também podemos compreender a primeira frase do Gênesis de múltiplas formas, dentre elas:
No princípio criou Elohim, Vós, os Céus e Tu, a Terra.
No princípio, esclareceu a potencialidade entre o que é verdadeiro e o que é falso.
No princípio, criou a Potência dos Mares, Vós, onde há água e Tu, o recipiente das águas.
Na Casa, entalhou um poço, onde há água e terra.
Na Casa, entalhou um poço, onde há água e recipiente.
No princípio, criou um Ente (Eu, Ser), composto por essência e forma.
Na Mente, pensou um Ente (Eu, Ser), que possui atributo temporal e espacial.
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[1] Apesar de, atualmente, a pronúncia bet decorrer da leitura da letra ב com o ּ (daguesh) em seu centro, ao passo que, a ausência do daguesh faz com que a pronúncia seja vet, adotamos, para facilitar a compreensão do público em geral, a pronúncia do bet, posto que, as duas pronúncias são abarcadas pela forma ב encontrada no manuscrito bíblico.
[2] Enquanto o yod e o vav valem 10 e 6, respectivamente, cada he tem valor numérico igual a 5, fazendo com que o tetragrammaton tenha valor igual a 26, o mesmo valor contido no desenho do aleph.
[3] Além do valor numérico de 2, a letra bet também guarda em si o valor de 412, fruto do somatório do valor numérico das 3 letras utilizadas para escrever bet por extenso: bet (2) + yod (10) + tav (400). Este valor gemátrico é o mesmo da palavra taavá (תאוה), que significa “desejo por se reproduzir”, transmitindo uma ideia de que o “lar” é um “desejo” e o que o “desejo” busca um “lar”. No caso do texto bíblico, podemos entender que o Aleph oculto, isto é, Deus, ao “desejar um lar”, o manifesta na criação (bereshit).
[4] Os 5 livros que formam a Torá são nomeados com base na primeira palavra contida em cada um deles.
[5] Embora o conceito de ambição possa ser entendido, atualmente, como ter coisas e, até, tomar algo de alguém, dentro do contexto bíblico, a ambição é bem expressa nos versículos iniciais (1-9) do capítulo 2 do Eclesiastes, os quais contém o relato de Salomão daquilo o que ele fez, criou, construiu. A ambição é o ímpeto que leva o indivíduo a construir algo, porém, depois, há a análise do que foi construído, versículos seguintes, transmitindo a ideia do Pensar.
[6] וכבר יש לנו תחושה לא רעה לגבי אופי היחסים.
[7] Embora a expressão hebraica costume ser entendida como “serei qual serei” ou até mesmo “eu sou o que sou”, não vemos sentido nestas traduções, seja porque o verbo “ser” em hebraico não existir no tempo presente, apenas no passado e no futuro, seja porque o Gênesis nos apresenta padrões de opostos, incluindo a própria conjugação do verbo “ser”. Assim entendemos que a identificação utilizada no episódio da “sarça ardente” faz uso do mesmo padrão dual, que também nos é apresentado na dinâmica aleph-bet como iniciamos a apresentar no texto e que continuaremos a abordar no restante do material.
[8] Abrão esteve unido, por dez anos, a Sarai, sem conseguir engravidá-la, depois passou mais dez anos com Agar, antes de iniciar a sua linhagem e modificar o seu nome. Isto é, a história representa simbolicamente o aleph oculto, formado por dois yods e um vav, antes de gerar o bet.
[9] Tendo em vista que o objetivo da citação é indicar a ocorrência da porta da tenda, fizemos uso de uma das traduções comumente utilizadas para designar o citado versículo, porém, também podemos traduzir o primeiro versículo deste capítulo como “E Yahweh olhou para ele (Abraão) com uma luz do céu (ou do Alto da Montanha), e ele estava sentado com a tenda aberta como o calor do dia”. A referência ao Alto da Montanha, como local de onde Yahweh olha para Abraão, é uma referência ao judaísmo primitivo, o qual indicava os chamados “lugares altos” como a morada de Yahweh e, por isso, altares eram erigidos em tais lugares a fim de se oferecer sacrifício a Ele em um período anterior ao da consolidação de Jerusalém como o centro do culto a Yahweh e o Templo como único local de oferta de holocausto, na construção do que veio a se chamar de judaísmo rabínico.
[10] 5 (he) + 10 (yod) + 50 (nun) = 65; 6 (vav) + 5 (he) = 11; 1 (aleph) + 1 (aleph) = 2 (bet).
[11] 1 (aleph) + 30 (lamed) + 5 (he) + 10 (yod) + 50 (nun) = 96; 9 (tet) + 6 (vav) = 15; 1 (aleph) + 5 (he) = 6 (vav).
[12] Este aspecto transmite, dentre outras coisas, a união das percepções de Deus tanto dos grupos de pastores, quanto dos grupos de agricultores que compunham os israelitas.
[13] A letra men é uma das 5 letras do alfabeto hebraico que apresentam variação no formato da letra quando se apresentam no final de uma palavra. Assim, enquanto dá início ou está no interior de uma palavra, grafamos מ, enquanto, no final, grafamos ם.
[14] Além da composição apresentada do nome hebraico dos Céus, ainda podemos destacar uma outra hipótese que é ventilada, a de que a palavra שמים é formada pela aglutinação das palavras אש, que significa “fogo”, e a palavra מים, que significa “água”, indicando que os Céus são formados por dois elementos, fogo e água.
[15] Dentre outros aspectos, encontramos essa associação da terra com a “impureza”, quando verificamos a necessidade de se limpar os pés antes de se encontrar em casa, bem como no mecanismo de se punir aqueles que apresentam comportamentos tidos como impuros, o apedrejamento.
[16] A verdade (אמת) sem Deus (א) resulta na morte (מת).
[17] A ideia de reparação dentro do conceito de tikun olam (תיקון עולם), está vinculada a ideia de que o Universo foi devidamente criado e, quando cessa a Sua atividade, Ele está determinando que a Sua obra deve continuar a ser feita por intermédio da ação dos seus filhos. Então, o conceito não significa que existe algo errado que precisa ser consertado, mas que existe algo que ainda se encontra incompleto e que isso deve ser reparado, para que a obra deixe de estar incompleta.
[18] Salmo 82:1 “(...) Elohim (אלהים) está na reunião/assembleia de Deus (אל), entre Elohim (אלהים) julga.”
[19] Gênesis 2:1-3; Êxodo 20:8-11; e Deuteronômio 5:12-15.
[20] A letra tet, por possuir o valor numérico igual a 9, acaba tendo uma forte ligação com a verdade (אמת), pois a redução gemátrica de emet (אמת) resulta em 9. Pela palavra אמת ser formada pela primeira, a letra do meio e a última letra do alfabeto hebraico, costuma-se dizer que a verdade é única do início ao fim. Bem como, o fato de que se a gente retira o aleph (Deus) da verdade, ela se transforma na morte (מת).
[21] A unirmos os valores de shin (300), tet (9) e nun (50), encontramos 395; fazendo a sua redução gemátrica [3 (guimel) + 9 (tet) + 5 (he)], obtemos 17; que, por sua vez [1 (aleph) + 7 (zayin)], encontramos o número 8, que corresponde ao het. Escrevendo o het por extenso, obtemos חית, que significa “animal”, “besta”, “feras”.
[22] Ponto importante, encontra-se no fato de que, embora tenhamos o hábito de associar a palavra deserto com uma região de areia ou rocha, a sua referência está vinculada à ausência de vida. Assim, o deserto é o local onde não há vida. Assim, em várias analogias contidas por toda a bíblia, podemos entendê-lo como uma referência ao bet, ou ao ארץ, que ainda não recebeu a essência vital do aleph, a água da vida.
[23] No texto em hebraico, a palavra utilizada significa “rim”, órgão no qual acreditava-se ser a sede das emoções e afeições.
[24] A expressão utilizada, significa tanto útero, como ventre/abdômen, além de transmitir a ideia de ser o lugar da fome.
[25] A expressão em hebraico também guarda outros significados, como cercar, trancar; bloquear, obscurecer, proteger, parar a aproximação, fechar, cobrir; tecer, entrelaçar.
[26] A expressão em hebraico transmite a ideia de “ser distinto, ser separado, ser distinguido, ser maravilhoso”.
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